O ciclo de chuvas está intrinsecamente ligado ao serviço ambiental prestado pelas florestas. Quando árvores tombam, a seca se intensifica. O Brasil vive um momento crítico de estiagem, que poderia não ser tão grave caso não se tivesse desmatado tanto no passado, como mostra artigo publicado pela revista Pesquisa Fapesp – Dança da chuva –, que ainda produziu vídeo para explicar os rios voadores.
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Quando, em 1990, a prefeitura de Iracemápolis procurou ajuda com os pesquisadores da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiróz (Esalq-USP), praticamente já não havia mais água na microbacia da região, no interior paulista. O professor e biólogo Ricardo Ribeiro Rodrigues iniciou então um projeto de conservação de solo e recuperação da mata ciliar, que havia sido derrubada.
Recentemente, Rodrigues teve uma grata surpresa. Ao visitar a microbacia do município se deparou com o nível da represa com água suficiente para abastecer Iracemápolis, que nestas últimas duas décadas, teve sua população triplicada. "Toda a região está com problemas de falta de água, mas ali não". O relato do pesquisador da Esalq faz parte de texto publicado pela revista Pesquisa Fapesp, em dezembro de 2014. Em "Dança da chuva", a bióloga e jornalista científica Maria Guimarães mostra como a escassez de água que assola o país tem uma ligação clara com desmatamento.
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Entre as fontes do artigo da Fapesp está Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que em outubro do ano passado publicou estudo alarmante: ″O Futuro Climático da Amazônia″. Nele, o cientista explica de maneira didática e incontestável a importância da Floresta Amazônica para o sistema climático, principalmente a regulação das chuvas para aquela e outras regiões do Brasil, inclusive o Sudeste.
O texto de Maria Guimarães demonstra ainda que não somente o desmatamento é nocivo, mas também o plantio de espécies não nativas (ou exóticas) em certas regiões. Um trabalho que está sendo conduzido pelo engenheiro Edson Wendland, professor no Departamento de Hidráulica e Saneamento da USP de São Carlos, detalha o que ocorre com a recarga do Aquífero Guarani, localizado no subsolo das regiões centro e sudoeste brasileiras (outros 30% da água do aquífero se encontram nos países vizinhos da Argentina, Paraguai e Uruguai).
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Segundo a pesquisa, quando a mata original do Cerrado é substituída por culturas como pastagem, cana-de-açúcar, cítricos ou eucalipto, a água no subsolo diminui. Avegetação nativa é adaptada para sobreviver a esse "estresse hídrico" e manter as reservas hídricas intactas. Infelizmente, o Cerrado, bioma que possui algumas das principais reservas subterrâneas de água doce do país, sofre com o desmatamento. Nas últimas décadas houve uma redução de 48,4% deste ecossistema. A taxa de desmatamento é mais alta do que na Amazônia.
Não é somente São Paulo que está vendo suas fontes hídricas secarem. Outras cidades brasileiras também enfrentam o mesmo drama. A "Dança das chuvas" pode acabar, caso grande esforço de reflorestamento não comece já no Brasil. Para complementar o artigo citado, veja abaixo o vídeo produzido pela Fapesp, em que o pesquisador Antonio Nobre fala sobre a importância da Amazônia na formação derios voadores que levam água para regiões distantes dentro do Brasil e nos países vizinhos.
VIDEO: Dança da chuva — parte 1: Rios voadores